O mesmo primeiro-ministro. Mas um novo mapa. Uma vitória muito além do que os conservadores – assombrados pelo fantasma das eleições de 2017, quando perderam maioria no Parlamento – sonhavam. À medida que as horas passavam, o vermelho da oposição se transformava no azul do partido do governo, e rostos conhecidos da política britânica foram perdendo seus assentos.
Boris Johnson apostou que seria capaz de ganhar a eleição com o apoio de cidades e comunidades onde votar no Partido Conservador era quase um pecado.
E venceu.
A maioria conservadora terá um efeito quase imediato no país – a menos que algo de novo aconteça, o Reino Unido vai deixar a União Europeia no mês que vem, já que Johnson vai contar com o apoio de novos parlamentares conservadores que vão aprovar sua proposta para o Brexit. A posição dele agora é forte o suficiente para subjugar qualquer oposição.
Pode haver infinitas discussões sobre a natureza deste relacionamento no longo prazo, mas não seremos mais parte do bloco econômico que integramos há quatro décadas. O Brexit, pelo menos a primeira parte – para usar o slogan de Johnson – vai acontecer.
Além disso, o resultado final, a ampla maioria conservadora, pode influenciar a capacidade do primeiro-ministro de implementar reformas.
Ele vai enfrentar oponentes diferentes – isso é claro.
A saída de Jeremy Corbyn da liderança do Partido Trabalhista é certa, falta apenas decidir quando isso vai acontecer, mas o rumo que o partido vai tomar já é alvo de uma amarga disputa. A perda é uma mistura da falta de liderança e da tortura em relação ao Brexit.
Mas explicar a derrota e planejar a mudança provavelmente envolverá meses de recriminação.
Os liberais democratas também saíram frustrados – a própria líder do partido, Jo Swinson, perdeu seu assento no Parlamento, assim como Nigel Dodds, vice-líder do Partido Unionista Democrático (DUP, na sigla em inglês). Essa eleição também proporcionou uma grande mudança no elenco político.
Mas não há nada claro sobre o que espera Johnson, mesmo com a ampla maioria que este país não via há anos.
Há grandes diferenças entre a Escócia e Inglaterra, por exemplo, e também entre as gerações políticas.
O povo acaba de conceder a Johnson uma quantidade enorme de poder político.
Dado o que está por vir, é uma moeda de troca que ele vai precisar gastar – e gastar bem.
Resultado da eleição Os eleitores britânicos foram às urnas na quinta-feira eleger os 650 membros da Câmara dos Comuns, uma das duas Casas do Parlamento.
Com praticamente 100% das urnas apuradas, o placar mostra que os conservadores vêm em primeiro, com 364 cadeiras, seguidos dos trabalhistas com 203, do Partido Nacional Escocês (SNP) com 48 e dos liberais-democratas com 11. O Partido do Brexit, esvaziado na estratégia de apoiar Johnson, acabou sem ter conseguido um assento sequer.
Neste cenário, os conservadores terão sua mais ampla maioria no Parlamento desde a vitória da primeira-ministra Margaret Thatcher em 1987.
*Com informações da BBC News
Foto: Hannah McKay/Reuters