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seg, 16 set 2024
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GO ENTREVISTA: Wesley Luzetti Fotoran

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Nesta semana nosso entrevistado é o Pesquisador e Doutor pela USP, Wesley Luzetti Fotoran, que desenvolveu um método que aumenta a eficácia de remédios e vacinas. Suas pesquisas focam principalmente no desenvolvimento de vacinas para malária e tratamentos de tumores em modelos experimentais.

O que despertou o seu interesse pela ciência?

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Acho que foi a capacidade dedutiva que a ciência traz! Quando você usa como base conceitos científicos, você consegue predizer uma serie de coisas, desde movimentos sociais a respostas fisiológicas. Fora que a visão pela ciência pode ser incrível por que realmente muda a realidade e como a vemos. O questionamento constante que a ciência pede nunca acaba, isso coloca os cientistas e a ciência numa busca eterna por questionamentos em constante reconstrução. E mesmo que nem sempre a ciência se mostre correta, ela ao menos afasta ignorância e estupidez, acho que o exemplo mais claro é justamente as pessoas que negam as ciências como um todo, terraplanistas por exemplo, não são somente pessoas que negam a ciência e sim pessoas que presam a própria opinião acima de qualquer outra, isso além de enraizar preconceitos limita a racionalidade tornando esse tipo de gente muito mais ignorante e muito mais suscetível a todo tipo de manipulação da vida moderna.

Qual a contribuição da ciência para a humanidade?

Existem várias contribuições positivas e negativas. Dentre as positivas acho que a maior de todas tem sido o pensamento crítico e racional que acompanha o pensamento científico. Porém como toda criação humana, em momentos históricos a ciência foi usada pra justificar preconceitos. O darwinismo social reverbera preconceitos e ideias erradas até hoje. Embora não seja culpa da ciência em si, o mal uso da ciência pode ser muito danoso. É muito comum se separar objetos de estudo na ciência, porém se não for visto como um processo contínuo e maior, essas separações podem levar a lógicas fragmentadas que por muitas vezes servem a grupos específicos. Tornar a ciência uma coisa universal e sem barreiras a todos tende a diminuir os malefícios que podem ser causados por ela. Porém fica óbvio que o surgimento da ciência mudou completamente a história humana, num futuro próximo pode inclusive ser usada para reescrever nossa história evolutiva. É justamente pelo impacto monstruoso que a ciência tem que ela deve ser popularizada, para evitar que sirva a pequenos grupos e interesses de classes específicas.


Como decidiu se tornar um pesquisador?

As universidades públicas tendem a ter um forte viés em pesquisa, logo foi meio que um caminho natural seguir pela mesma linha. Não me recordo de um momento onde esse caminho foi pensando de maneira clara, mas é natural quando se pesquisa algo ter ainda mais dúvidas e mais perguntas sobre o tema. Logo acaba se tornando um efeito dominó seguir o caminho da pesquisa.


Em que área você atua?

Eu trabalho com nanotecnologia, basicamente uso estruturas nanométricas para resolver problemas diversos. Atualmente meus estudos são o uso dessas nanoestruturas para desenvolver vacinas para malária e tratar de maneira mais eficiente tumores em modelos experimentais.

O que falta para o Brasil alcançar os países de primeiro mundo em produção científica?

A nossa produção cientifica é muito boa e não estamos atrás de outros países, porém ainda investimos muito pouco em ciência. Em outros países o investimento de empresas privadas em pesquisa é muito maior o que acaba resultando em publicações mais massivas. No Brasil quase que todo o investimento é público e oscila demais dependendo do governo vigente. Desse modo creio que o mal costume de vermos a ciência somente como gasto e não como um retorno social, acaba prejudicando muito nosso status cientifico no mundo como um todo. Mas não tenho dúvida nenhuma que a nossa capacidade cientifica é muito boa.

Na sua opinião os incentivos da iniciativa pública são suficientes para as pesquisas realizadas no país?

Não. Penso que o investimento público é ainda muito pequeno. Investir em pesquisa é na verdade fomentar tanto o conhecimento como as tecnologias que servem aos estudos científicos. Devemos ter mente que todas as ciências devem ser incentivadas de maneira continua para que se complementem mutuamente. Sem essa visão que deve ser a longo prazo, só a iniciativa pública não consegue manter investimentos suficientes, como toda batalha, brigar para aumento de investimentos sempre será o maior ponto a ser debatido para a melhora da ciência como um todo.

Está trabalhando em alguma pesquisa no momento?

Atualmente tenho dois estudos em andamento. Estudo vacinas baseadas em RNA contra malária e tratamentos mais eficientes contra tumores. Em ambos os casos uso nanoestruturas que melhorem os tratamentos já usados ou que possam ampliar a gama de alternativas contra malária e tumores.

Quais são seus próximos passos no desenvolvimento de projetos?

Os próximos passos serão a saída do Brasil e extensão dos meus estudos com grupos de fora do país. Uma vez que os investimentos fora do país são maiores, as chances dos meus estudos se tornarem algo realmente aplicável aumenta consideravelmente. Como toda ciência colaborativa, a esperança é que eu possa devolver algo de concreto que consiga resolver em parte os problemas causados pela malária e tumores.

Como você qualifica o Brasil na produção pesquisas de imunologia?

Nossos grupos de estudo em imunologia são muito fortes, porém ainda sofremos com o problema de serem grupos polarizados em algumas regiões do país. O ideal seria termos mais grupos em todo o país, porém os investimentos continuam favorecendo só os grandes centros. Acho também, que temos um problema de não termos a tradição de conectar nossos grupos com outros maiores no mundo, isso traria uma maior atenção aos nossos esforços com uma grande chance de retorno pra população como vacinas e imunoterapias que possam ser reconhecidas e usadas mundialmente.

Qual é o seu conselho para quem gostaria de atuar como pesquisador?

Na nossa atual conjuntura eu diria que olhe com bastante atenção o cenário cientifico no exterior. Ele continua sendo referência, porém não devemos nos subestimar. A síndrome de vira lata deve ser abandonada. Eu também aconselharia a observar a carreira como um todo, sem o preconceito de achar que a sua área cientifica é melhor que a de outros, todas as áreas científicas devem se complementar e não se dividir. A pesquisa deve ser encarada como uma continuidade da educação, sendo assim nunca se afaste de transmitir seu conhecimento, mantenha sempre isso em mente é a educação que pode construir uma ciência forte, por mais forte que possa parecer a pesquisa ela nunca se sustenta sem a educação.

Considerações finais

Acho importante salientar que no contexto atual o Brasil vem sofrendo sérios ataques à ciência, o atual governo não presa pela ciência e educação, inclusive se beneficia muito com o enfraquecimento dela. Movimentos anti-vacina e terraplasnismo não são meras piadas, são processos que matam e prejudicam todo o país. A ignorância não é uma benção, é na verdade um grilhão que aprisiona as pessoas em preconceitos e inverdades, temos que fazer o máximo possível para que isso acabe o quanto antes.

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