Seja para o churrasco de domingo ou para o almoço da semana, a carne bovina tem pesado no orçamento do brasileiro e já começa a aparecer mais na fatura do cartão de crédito. Em açougues na capital paulista visitados nos últimos dias, os preços altos e o dinheiro curto têm feito com que o consumidor recorra cada vez mais às compras no cartão — e, se possível, em parcelas.
Após registrar o recorde de R$ 231, na última semana de novembro, o preço da arroba do boi gordo tem oscilado nos últimos dias. Na segunda-feira, custava R$ 208,90, no Estado de São Paulo, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Há um mês, custava R$ 181,90.
Nas ruas, o impacto dos últimos aumentos ainda é visível: ao ver os preços da carne, a reação da maioria dos consumidores varia entre o espanto e a resignação. E é preciso ficar esperto para pegar promoções e escapar das remarcações: a reportagem visitou o mesmo açougue, na região central da capital paulista, e o quilo do filé mignon passou de R$ 59,90 para R$ 68,90, um aumento de 15% em um intervalo de três dias.
“Aqui, no balcão, cada dia é um preço, poque o fornecedor também muda os valores todo dia. Parece aquela época da inflação alta, em que a gente nunca sabia quanto as coisas iriam custar”, compara o comerciante César Santos, dono de um açougue na região oeste de São Paulo. Ele conta que o consumidor ainda se espanta e reclama bastante dos preços altos dos cortes.
“Tem gente que vinha aqui toda semana e que eu não vejo há muito tempo. A verdade é que já não se está podendo gastar como antes. O salário não acompanha a vontade de comer carne”, diz Santos. Ele concorda que houve um aumento nas vendas por cartão de crédito. “A pessoas, às vezes, querem muito levar e passam no cartão, na ilusão de que vão conseguir pagar se tiverem um pouco mais de tempo.”
Perto dali, na Vila Buarque, Marinalva Loureiro explica que os preços da carne em seu açougue registraram altas de até 60%. “A gente não sabe se vai voltar a cair de forma significativa tão cedo. Tem fornecedor que diz que ainda vai demorar. Muitos consumidores acabam se conformando, eles redescobriram o sabor do frango.”
Ela conta que as vendas por cartão de crédito também tiveram mais procura. Tem gente que acaba se apertando para pagar no fim do mês e, no pior dos casos, tenta negociar o pagamento com o banco depois. “A gente sempre dá um jeito de vender. Só não dá para fazer fiado.”
O atendente Breno Silva diz que, além de saber descrever os tipos de corte, no açougue em que trabalha todo mundo acabou sendo treinado para explicar aos clientes que as altas nos preços vieram com o aumento das exportações para a China. “A maioria das pessoas entende, mas tem quem reclame assim mesmo.”
Alguns donos de estabelecimentos que já contavam com parcelamento de compras dizem acreditar que levam vantagem nesse cenário de preços mais altos e consumidor com pouco dinheiro no bolso.
“A gente parcela no cartão de crédito, em até três vezes, nas compras acima de R$ 100. Daqui a pouco, se o cliente comprar meio quilo de carne, já vai poder dividir”, brinca Carlos Lopes, proprietário de um açougue na Freguesia do Ó, zona norte da cidade.
Ele avalia que os preços da carne bovina devem voltar a cair em janeiro, mas que agora estão apenas estáveis. “A gente vai vendendo como dá. Quem antes podia comprar carne de primeira, aprendeu a gostar da carne de segunda. Com o tempo, o consumidor até se cansou de reclamar. Ele simplesmente para de comprar”, resume.
Gerente de um outro estabelecimento na zona norte de São Paulo, Ari Guimarães conta que os preços continuam subindo e que os clientes ainda se surpreendem na hora da compra. “É impressionante. A maior parte dos consumidores trocou a carne boi pela carne suína, que teve um aumento de até 20% nas vendas. Geralmente, no Natal, esse aumento era de até 4%. Ainda não adotamos parcelamento no cartão, mas alguns clientes já pedem.”
*Com informações da Agência Estado
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